28 dezembro 2011

Quem muito descansa...

FOLHA.com

Era época de Natal. Ainda faltavam alguns dias para a entrega dos presentes e o menino já nem dormia mais de tanta ansiedade. Naquela noite, coube ao pai a difícil missão de fazê-lo dormir. E ele foi, cheio de confiança. A nova história que tinha para contar seria de efeito imediato. – Filho, era uma vez um time de futebol muito famoso que sonhava jogar no Japão. Para isso, bastava ganhar a Libertadores da América. E eles venceram, meu filho! Venceram a Libertadores! Esse time era o Santos e os seus jogadores puderam então viajar para lá. Assim, foram felizes para sempre. – Mas pai! E o Brasileirão?

O filho continuava de olhos bem abertos. O pai franziu a testa, mas não desanimou. – Que Brasileirão? Ah! O Brasileirão! Isso aí não vale nada! Se podiam jogar duas vezes no Japão, para quê fazer 38 jogos aqui no Brasil? Por isso, contrataram um mágico... – Ah, pai! Aquele do topetinho amarelo? – Sim, um tal de Neymar. Como ainda faltavam cinco meses para a viagem, o garoto ficou animando a galera com os seus malabarismos, enquanto o resto do time descansava. Até que finalmente entraram no avião, desceram em Tóquio e foram felizes para sempre. – Ué? Eles não iam jogar no Japão? Me conta!

E o filho, nada de sono. Já o pai, tentava manter a calma. – Tudo bem, filho. Vou contar, mas depois, toca a dormir! No Japão, esse time fez um jogo, venceu e chegou à final para enfrentar o campeão europeu. Aí, voltaram para casa com o sonho realizado e foram felizes para sempre. – Naquele instante, o menino parecia dormir. O pai suspirou de alívio e foi saindo de fininho. De repente, uma voz quebrou o silêncio. – Pai. E a final? – Chega, filho! Quer ficar sem presente de Natal? Então dorme! Agora! – O pai estava realmente irritado. – Não teve nenhuma final! O Santos não viu a bola e... dormiu em campo!

18 dezembro 2011

Do Mindelo para o mundo

G1 - globo.com

Ela nasceu numa cidade chamada Mindelo. Não sei como explicar, mas lá é diferente dos outros lugares. O dia começa ao pôr-do-sol. Antes, fica tudo adormecido. Depois, abrem-se as portas dos bares e belíssimas vozes cantam pela noite dentro, ao som de guitarras, violinos e cavaquinhos. Durante muitos anos, uma dessas vozes foi dela, Cesária Évora. Até que alguém teve a feliz ideia de levá-la para cantar no Teatro de Paris. E ela cantou, como se estivesse num daqueles barzinhos. Imediatamente, conquistou o coração dos franceses e passou a ser la Diva aux pieds nus – a Diva dos pés descalços.

Depois de cativar a França com a sua autenticidade, chegou a vez do mundo passar a admirá-la. A consagração plena veio em 2004, com o Grammy para o melhor álbum do World Music. Nos últimos anos, eram tantas turnês pelos diferentes continentes, que praticamente não parava mais na sua terra natal. Os seus músicos diziam que ela nem ensaiava. Antes dos concertos, escolhia as músicas que iria cantar e recomendava: Agora se virem para me acompanhar. Mas afinal, de onde saiu essa voz, que a Madonna, um dia, confessou ter sempre perto do ouvido antes de dormir?

A Cesária Évora saiu de um lugar muito pequeno. Pequeno demais para tão grande talento. Felizmente, não se perdeu, lá Isolada nas noites da acolhedora cidade do Mindelo. A sua linda voz cruzou fronteiras e deu a conhecer ao mundo os "dez grãozinhos de terra que Deus espalhou no meio do mar", o Mar Azul que envolve Cabo Verde, a sua terra estimada. Para os amigos, ela era apenas Cize e ontem deixou todos com infinita Sodade. Agora, na hora da Partida, resta-nos desfrutar das músicas que ela interpretava com a simplicidade de uma Miss Perfumado e dizia: Deixem-me morrer a sonhar...

08 dezembro 2011

Campeonato da emoção

ESTADÃO.COM.BR

Foram seis meses de um campeonato repleto de emoção. Na 38ª e última rodada, eram dois os clubes que ainda sonhavam com o título – Corinthians e Vasco da Gama. Duas semanas antes, o mesmo sonho chegou a alimentar seis candidatos. Os atuais campeões até podiam ter resolvido a questão na penúltima rodada, mas um gol do seu concorrente direto, no minuto 90, a algumas centenas de quilômetros de distância, adiou tudo para o último dia. Foi assim o Brasileirão, sofrido até ao fim. Mas num campeonato tão disputado, alguém viu o atual campeão da Libertadores?

Claro que todo o mundo viu. Era impossível não ver o Santos, ou melhor, Neymar, o mágico da bola e suas jogadas mirabolantes. Mas esse foi um espetáculo à parte. Desde o início, o campeão das Americas se auto-excluiu da luta pelo título. Preferiu passear um pouco. Ficou em banhos e massagens, esperando por um jogo com o campeão europeu e assim se proclamar o melhor do planeta. É bonito, mas uma pena para o Brasileirão, que se viu privado de um grande protagonista. Contudo, o maior culpado é quem devia valorizar o seu espetáculo e o público.

Muitas vezes, quando o campeonato estava ao rubro, vinha a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e tirava dos clubes os seus craques para mais um amistoso da seleção. Uma lástima para o Brasileirão. Que graça tem um espetáculo sem os seus astros? Isso também contribuiu para afundar o Santos logo de início. E o Santos sem Neymar não mete medo a ninguém. Hoje, o maior prejudicado foi o clube da Baixada, mas amanhã será outro. Por isso, quando houver jogos da seleção, deve parar tudo, o campeonato, o país... tudo! E "salve o Corinthians, o campeão dos campeões".

04 dezembro 2011

Muita calma com os neurônios


Podemos estar num ambiente dos mais agradáveis, entre familiares e amigos. De repente, somos atingidos por uma tontura que avança como um raio, fulminante na cabeça. Mais tarde, numa cama de hospital, com problemas motores e dificuldade na fala, vem o diagnóstico – foi um acidente vascular cerebral (AVC). Uma artéria pode ter sido obstruída. No cérebro, neurônios dependem dessa artéria para receber oxigênio. Sem isso, eles morrem e os danos são irreversíveis. Agora, uma proteína chamada bradicinina pode ajudar na formação de novos neurônios, substituindo aqueles que morreram.

Este é o resultado de estudos feitos com embriões de camundongos. Pesquisadores brasileiros usaram a bradicinina para transformar células-tronco dos tecidos cerebrais desses roedores em neurônios. Foram ensaios "in vitro". Contudo, "in vivo" as reações são muitas vezes imprevisíveis. Em humanos então, podem ocorrer efeitos colaterais graves. Por isso, embora seja um bom começo para se compreender o que acontece na formação do cérebro e como surgem certas doenças neurológicas, os cientistas preferem manter a calma e não entram em grandes euforias. 

Eu é que não preciso ter calma. Já vejo o futuro bem aqui na minha frente. Assim como um eletricista conserta um curto-circuito, substituindo alguns fios queimados, vai chegar o dia em que o médico, mexendo na cabeça de alguém, fará a simples troca de neurônios mortos por outros novos. O paciente sairá caminhando como se nada tivesse acontecido. Mas nem tudo serão rosas. Algumas pessoas começarão a culpar os seus neurônios por todo o tipo de problema. – Oh Dr.! Ontem, meus neurônios não reagiram quando mais precisei deles. Pra mim chega! Pode mudar tudo! – Calma! Muita calma nessa hora.