24 janeiro 2012

Aprendendo com a natureza

Ask Nature

O Deserto do Namibe, no sudoeste do continente africano, é famoso por ter as dunas mais altas do mundo. A sua extensa área no litoral, em contato com o Oceano Atlântico, também conhecida como a "Costa dos Esqueletos", já testemunhou muitos naufrágios e mortes. A aridez daquele lugar torna a vida quase impossível. Mesmo assim, alguns animais conseguem sobreviver lá. Entre eles está um pequeno besouro com muito para ensinar. Cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) perceberam isso e estudaram muito bem as suas características tão peculiares.

No difícil jogo da sobrevivência, o Besouro do Namibe (Stenocara gracilipes) seria facilmente derrotado pelos dias tórridos de uma das regiões mais quentes e secas do planeta. Mas durante a noite, e até de madrugada, a situação muda de figura. É quando ventos fortes trazem do Atlântico pequenas massas de nevoeiro. Naquele preciso instante, o nosso besouro está já posicionado em algum ponto do deserto, trabalhando arduamente para matar a sede. Na sua carapaça, pequenas saliências atraem minúsculas gotículas da água existentes nesse ar úmido e fazem-nas deslizar até a boca.

Essas gotículas de água são muito pequenas. O seu diâmetro é menor que o de um fio de cabelo. Portanto, seriam facilmente levadas pelo vento. Mas o besouro carrega nas costas um eficiente coletor de umidade. Se, num primeiro momento, capta esses vapores de água que circulam no ar, logo de seguida, usa microcanais para levá-los onde melhor lhe convém. Foi o que inspirou os cientistas do MIT, pensando numa forma de ajudar aqueles que, diariamente, lutam para conseguir um pouco de água potável. E nem precisaram inventar muito. Apenas usaram telas de malha fina em vez da tal carapaça do besouro.

A natureza ensina os caminhos para se fazer um coletor de umidade

06 janeiro 2012

Ecológico Furoshiki

 

Estava eu de olhos fixos na televisão, vendo o Jornal Hoje, da Globo, mas com a cabeça noutro lugar, pensando em coisas não muito agradáveis, quando uma linda reportagem me trouxe de volta. Era sobre uma tradição japonesa, o bastante para chamar a minha atenção e deixar os desassossegos da vida para lá. É quase impossível uma pessoa ficar indiferente aos ensinamentos que a cultura nipônica nos oferece. Tudo vem de tempos remotos, trazido por várias gerações, sempre mantendo a essência que os ancestrais criaram. Desta vez, o que me fascinou foi o lado prático do Furoshiki.

Muitos problemas me perseguiam antes daquela reportagem, mas com toda a certeza, nada tinham a ver com sacolas de plástico descartáveis. Em nenhum momento pensei nas 66 sacolas que cada brasileiro leva para casa todos os meses e nem nos 300-400 anos que elas demoram a se decompor. Eram os últimos dias de Dezembro e já chegavam notícias de chuvas fortes e inundações em vários pontos do país. Mas nem me lembrei de todos aqueles plásticos presos nos bueiros das cidades, impedindo o escoamento de água, para desgraça de muita gente. Não pensava em nada disso.

Depois de conhecer essa técnica milenar que, de nó em nó, transforma lenços em bolsas capazes de transportar vários objetos, a  minha consciência ecológica aflorou. É aquela consciência que todos têm, mas fica, muitas vezes, escondida atrás de uma preguiça difícil de vencer. As sacolas de plástico são úteis, sem dúvida. Se uma hora trazem as compras do supermercado, logo de seguida já estão levando o nosso lixo para longe. A partir daí é que vêm os problemas. E antes que se agravem, seria melhor ficarmos livres disso logo. Quem sabe através do Furoshiki, apelando à nossa consciência ecológica.

01 janeiro 2012

Um príncipe no Réveillon

VNEWS

Ano novo, vida nova! O que não muda é o prato especial de bacalhau na ceia de muitos brasileiros. Boa escolha, sem dúvida. Mas, talvez, poucos saibam a verdadeira história deste peixe, descoberto pelos vikings, há mais de mil anos, em suas diabólicas aventuras. No entanto, foi dos bascos, na Espanha, a ideia de salgar o bacalhau e deixá-lo secando ao ar livre, sem imaginar a revolução que provocariam na alimentação mundial. Os portugueses eram capazes de dar a vida pelo seu "fiel amigo" e os noruegueses, vendo o ouro que tinham em suas mãos, fizeram dele o produto mais tradicional da face da terra. 

A pesca do bacalhau era uma autêntica caça ao ouro, em que muitas vidas ficavam pelo caminho, perdidas nas águas geladas do Atlântico Norte. Desde o séc. XV e por mais de 500 anos, navios portugueses saíram nessa difícil missão, que os levava a ficar seis meses nas imediações da Noruega e da Groenlândia, até encher completamente os porões. Os navios permaneciam lá ancorados, enquanto solitários pescadores entravam em minúsculas embarcações e desapareciam atrás do horizonte, para tentar fisgar o bacalhau com linha e anzóis, enfrentando nevoeiros, icebergs e poderosas tempestades.

Quando o bacalhau chegou ao Brasil, em meados do séc. XIX, a Noruega já era, há muito, o grande polo mundial de exportação desse produto e vários conflitos tinham ficado para trás. Na verdade, ao longo dos tempos, grandes frotas mercantis tentaram dominar e controlar os locais de pesca do bacalhau. Aliás, em 1585, espanhóis e ingleses pegaram mesmo em armas e partiram para a chamada "guerra do bacalhau". Hoje, a guerra é outra e o mundo tenta se unir contra a morte anunciada do "príncipe dos mares". Infelizmente, o frio do Atlântico poderá perder de vez o peixe que muitos acreditam não ter cabeça.